8.6.09

Café Paris

2004 animação 35mm 9 min

no Café Paris fiz roteiro, direção e produção. enfim, uma experiência completa! e Cláudia Barbisan, Ana Luz e Márcia Nunes foram as pessoas que me ajudaram a sobreviver a ela...

desta vez, foram dois anos de trabalho, desde o projeto até a finalização. fotografei as pessoas que seriam os personagens e, na rua e nos cafés, o que seriam os cenários. depois, as fotos das pessoas transformaram-se em desenhos e os cenários foram elaborados em longos travellings. naquele momento, o grafite estava por toda a parte onde a gente circulava, na Cidade Baixa, no Bom Fim, no Gazômetro. fizemos uma apropriação fotografando o que mais gostávamos. a Cláudia trabalhava a direção de arte a partir dessas fotos e, com a autorização do Trampo, muitos trabalhos da street art local estão no filme.

o roteiro teve que ser tão adaptado em função das dificuldades técnicas dos desenhos próximos do real - quase uma rotoscopia - que acabei pensando demais sobre a apresentação de personagem, conflito, ponto de virada e resolução. inclui isso na locução em off da personagem Magnólia - deixando essas questões estruturais aparecerem como função na narrativa. isso me ajudou a aliviar a pressão de ter que mudar o texto o tempo todo.

a personagem é meio perdida, minha anti-heroína. ela fica andando pelos cafés e pensando na vida. na época, entre outras coisas, eu estava lendo o clássico da literatura árabe, As mil e uma noites, e achei incrível a habilidade da Sherazade de adiar as coisas pra salvar a própria pele, resolvi acrescentar isso à personagem - ela adia tudo o que quer fazer, escrever um livro, viajar, arrumar um trabalho. isso deveria ser muito angustiante - até que a solução do conflito caisse do céu, ex-machina, ela corta o cabelo e ganha uma viagem! pronto!

como não sou animadora ou desenhista profissional, o curta foi solenemente ignorado pelos animadores e afins e bem recebido pelo pessoal da crítica e do live action porto-alegrense. isso foi ótimo porque passei a me interessar muito mais por cinema em geral, para além do "mundo encantado dos desenhos animados".

para mim, a melhor sessão foi a de janeiro de 2005 com a equipe na Sala P. F. Gastal em 35 mm (sem o brilho dos acetatos!) com a música (bem alta!) da She's ok, adaptada pelo Heron Heinz, Zicco Cardoso e Desirée, e a presença do Pinga, 9 Li e Gera (os representantes do grafite) que chegaram atrasados e ficaram lá atrás assistindo comigo e rindo - o que considerei um bom sinal.

depois de recusado em alguns festivais, a Cláudia resolveu postá-lo no Youtube. finalmente, o curta tinha achado seu espaço de exibição!