7.6.09

O Arraial

1997 animação 35mm 14min





visitando a memória - afinal foram cinco anos de trabalho e já faz tempo. segundo roteiro e primeira co-direção. na página de story-board acima, desenho do Alemão Guazzelli e texto meu - datilografado.

a idéia de um projeto sobre Canudos veio de Peter Pryzigoda através de um edital do Instituto Goethe SP. ao invés da seleção de um único projeto, decidiu-se fazer um filme com todas as propostas apresentadas - um filme de episódios ou um filme ônibus - como era chamado.

bem diferente do curta anterior, o Novela, o assunto agora era sério, muito sério. saí da brincadeira com os clichês de telenovela direto pra um tema histórico. procurei referências no livro Os sertões de Euclides da Cunha e em A Pedra do Reino de Ariano Suassuna - afinal, sertão eu só conhecia o do Cinema Novo, o do Jornal Nacional e um pouco o do Guimarães Rosa.

fui construindo o roteiro a partir do diário que Euclides escreveu quando foi repórter da campanha de Canudos e do ponto de vista de uma criança que acompanha a família juntando-se aos peregrinos que seguem pra o Arraial Santo de Belo Monte de Canudos e que, assim como eu, não entendia exatamente o que estava acontecendo - mas se esforçava.

Sebastião - o lendário rei de Portugal - também entra na história transportado pra cá pela imaginação da menina e pelos textos de Antônio Conselheiro. O arraial foi um mergulho na história místico-medieval do nordeste brasileiro e talvez tenha sido por isso que o filme foi recebido calorosamente lá - e friamente aqui (no sul).

mas com ele estive no meu primeiro festival internacional - Du Dessin Animé e du Film d'Animation em Bruxelas - onde numa quarta ou quinta de tarde foi exibido na Programação Terceiro Mundo junto com os filmes dos nossos irmãos da África e da Índia. éramos umas seis ou sete pessoas compondo a platéia - se contar o simpático tradutor Jean que logo na chegada me perguntou o que era "junta grossa" - uma cidade do interior da Bahia? expliquei que era "joelho" - numa profecia do Conselheiro o sangue há de correr até a junta grossa! rimos muito e Jean me convidou pra almoçar com a família dele no domingo.

nesse almoço, Jean me contou que a cidade ficava vazia no verão - ainda era inverno naquele momento - e tudo fechava. achei incrível encontrar esse fenômeno em outro lugar do mundo - pensava que era exclusivamente portoalegrense. quando voltei, procurando um próximo argumento, lembrei daquela conversa e acabou surgindo a idéia do Cidade Fantasma.